sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Caminhada na Serra da Nogueira
De Rebordainhoa ao Santuário

Post publicado por Augusta Mata no Blog de Rebordainhos com o titulo

Peregrinações à Nossa Senhora da Serra



As peregrinações à Nossa Senhora da Serra , paróquia de Rebordãos, fazem parte do imaginário de qualquer habitante das povoações que circundam a belíssima serra de Nogueira.
Para mim, esta é seguramente uma das mais belas serras de Portugal, onde a cada passo se podem desfrutar das mais belas paisagens que o nosso país possui. Certo que esta é a opinião de uma transmontana ferrenha e que defende o seu torrão em qualquer lugar do mundo. Mas, quem duvidar desta opinião, porque não “mete os pés ao caminho”, e vem verificar a veracidade desta afirmação?




Uma amostra da bela vista da
Serra da Nogueira






Bom, mas o motivo desta minha narrativa, não se prende tanto com a beleza da serra, mas sim com o Santuário que se situa no seu ponto mais alto.
Diz a lenda que, andando uma menina muda a pastorear o seu rebanho, lhe apareceu Nossa Senhora que lhe pediu para dizer aos seus conterrâneos – de Rebordãos -, que lhe construíssem uma Igreja no ponto mais alto da serra de Nogueira.
A menina assim fez e, como apareceu a falar, todos acreditaram naquilo que a mesma lhes transmitiu.
Mas… no alto da serra? Tinham de subir pelo carvalhal acima? Uma subida tão acentuada que, muitos há que lhe chamam “pingão”? Então decidiram construir a capela sim, mas no início da subida. Afinal, era serra na mesma, e a Santa não se devia importar muito.
De imediato deitaram mãos à obra. Mas, se durante o dia construíam uma parede, a mesma havia de ser deitada abaixo durante a noite. Tantas vezes teimaram em construir que, outras tantas as paredes vieram abaixo, até que, Nossa Senhora decidiu aparecer novamente à menina muda, e lhe transmitiu que no dia 5 de Agosto, o lugar onde queria que lhe construíssem a Igreja, haveria de estar marcado com neve. Assim foi e, os habitantes de Rebordãos decidiram acatar a vontade da Santa e lá construíram a Igreja, e o culto foi-se perpetuando pelos tempos até aos dias de hoje.
Não sei bem a época em que tal aconteceu mas, numa das esquinas da Igreja estão inscritas duas datas: 1659 e 1671, ambas posteriores à construção da Igreja Matriz de Rebordãos que, de acordo com o inscrito no exterior, esta aconteceu em 1611, e no interior em 1614.
Não sei se é do conhecimento de toda a gente. Mas sabem que Nossa Senhora da Serra também se chama Nossa Senhora das Neves?
A festa inicialmente era realizada no dia 5 de Agosto mas, porque nessa altura ainda existiam muitos trabalhos agrícolas, ficou decidido realizar-se a 8 de Setembro, quando as colheitas já estavam devidamente guardadas.
De realçar no entanto que, ainda hoje, no dia 5 de Agosto é celebrada uma missa e são arrematados os quartéis (os que ainda estão disponíveis, pois muitos há que os têm alugado permanentemente) e as tabernas onde, nos dias das celebrações se hão-de saborear excelentes nacos de vitela assada.
Para além da festa propriamente dita, realiza-se anualmente uma novena – de 30 de Agosto a 7 de Setembro. E são inúmeros os fiéis que, ou alugam um quartel para aí permanecerem durante a novena e dia da festa, ou diariamente aí se deslocam a pé ou de carro para assistirem às celebrações dando cumprimento a promessas anteriormente feitas, ou então , pelo simples gosto de caminhar.
Lembro-me de em garota, ansiar pela chegada da Senhora da Serra, porque nessa altura, as meninas tinham direito a uma boneca pequenina, daquelas que tinham um elástico a unir as duas pernas e outro a manter os braços juntinhos ao corpo e, que depois, com a nossa criatividade, haveríamos de vestir com roupas por nós costuradas. Aos rapazes, a sorte trazia-lhes um tractor ou um camião de lata, que haveriam de exibir e conduzir carregados de terra , por estradas previamente bem alisadas numa qualquer rua da aldeia.

Por estas bandas, Setembro não existe sem pelo menos uma ida a pé à Senhora da Serra. Este ano, um grupo de três manas, mais a vizinha Tininha, anteciparam a ida. As férias de algumas acabavam antes e havia que cumprir o ritual.
A caminhada iniciou-se por volta das 8 da manhã e, para nossa surpresa, a Fininha tinha-se mesmo levantado para nos acompanhar. E lá partimos com a desconfiança de que, a mesma Fininha, haveria de desistir. Afinal, costuma “enjoar” quando anda a pé!

Em Vila Seco encontrámos o Toninho mais as suas ovelhas. E não é que também ele se interrogou se a Fininha chegaria ao fim da caminhada?








A Olímpia, Amélia e Tina





Subimos pela Malhada Velha até à casa da floresta. Uma casa linda que, se reconstruída, bons momentos de calma e sossego poderia proporcionar a quem dela quisesse usufruir, e serviria concomitantemente como fonte de receitas para a junta de freguesia.



A casa da Floresta








Um pouco mais acima encontramos a recém – baptizada “fonte do peregrino” e, fazendo jus à nossa condição, saciámos a sede com aquela fresquíssima e puríssima água . Outras necessidades humanas básicas foram ainda satisfeitas mas, refiro-me aqui apenas à satisfação com que fomos comendo as deliciosas amoras silvestres que fomos encontrando pelo caminho.



A Fonte do Peregrino







Ninguém se queixava das pernas porque a nossa alma estava completamente preenchida. As belezas naturais que podemos desfrutar em todo o percurso são soberbas. A zona das bétulas é fantástica e, nunca por lá passo que não me lembre do filme do Dr. Jivago quando, o mesmo procurava incessantemente Lara. Depois deparamo-nos com um pinheiro que, carinhosamente adquiriu a forma de cabana pronta a abrigar um peregrino que pretenda descansar à sua sombra. E depois… começam a avistar-se as mais diversas aldeias que circundam a serra. É um mar de imagens indescritíveis. O melhor é saborear!












Finalmente, já no alto, a nossa boleia de regresso já estava à espera. Cumprimos o prometido e, não é que a Fininha aguentou firme o 10 km de caminhada?

O Levi Mata garantia o regresso de carro

Para mim, a peregrinação haveria de continuar durante os nove dias da novena. Mas desta feita com partida de Bragança, passagem por Rebordãos e subida do pingão, num total de 15,2 Km. Mas tive sempre a companhia de duas amigas e o apoio do gabinete ao peregrino que desde há uns dois ou três anos existe junto ao Santuário. Aí somos recebidas por um grupo de enfermeiras e outras pessoas que, voluntariamente aí permanecem para, com todo o carinho aliviarem os pés com reconfortantes banhos quentes e massagens ou, para quem não tenha necessidade de tais cuidados, com um delicioso café.




Fotografia tirada em Rebordãos

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